Enganam-se todos ao acreditarem em apenas um nome, ou um alguém, possa sozinho combater a corrupção. Combatê-la é tarefa de todos, todos os dias, desde a luta contra os privilégios das castas políticas e judiciais.
Porém, além e acima de tudo, é preciso entender a corrupção
como um fenômeno social, arraigado em um estado patrimonialista, onde todos, ao
ascenderem ao poder, tomam a coisa pública como se sua fosse, privativa.
Portanto, vale dizer: a sociedade é corrupta. E sua
representação política, apenas representa esta parcela social.
Quando um pai vê seu filho pegar algo que não lhe pertence e
não o repreende, está ali mesmo incentivando a corrupção. Quando um prestador
de serviços eleva seu preço ao ver que seu futuro cliente tem “melhores condições”,
está praticando corrupção. Quando sabemos algo verdadeiro e mesmo assim
compartilhamos “fake news”, estamos praticando corrupção.
Poderia escrever linhas e linhas, uma enciclopédia, recheada
de exemplos.
Não, a corrupção não é um mal brasileiro. Não, a corrupção
não foi inventada por determinada ideologia política. Não, a corrupção não tem
a ver com graus de conhecimento, ou de dogmas religiosos, ou de quaisquer
outros fatores. Corrupção tem a ver desvio de caráter, corrupção tem a ver com
impunidade.
Aí está a diferença entre nós, brasileiros, e outras
democracias consolidadas: a responsabilização dos atos de corrupção, seja no
setor público, seja no setor privado. Sem privilégios, sem foros especiais de
julgamento, sem dó, nem piedade.
Em nosso país, a corrupção data do descobrimento, quando
Pero Vaz de Caminha escreve ao rei de Portugal, contando sobre as maravilhas de
nossa terra e aproveita para pedir-lhe um cargo ao genro (dizem haver
controvérsias nesta história, porém, fico com a versão mais alardeada. Se em
algum momento perceber o equívoco, tratarei logo de corrigi-lo).
E assim é o nosso Estado, e assim é o patrimonialismo: onde
poucos usufruem dele, tomando o bem social para si.
Em muitos casos, a corrupção é tolerada, por se tratar de
“justiça social”. Ora, de um fruto podre, não haverá de crescerem bons frutos.
Portando, trata-se apenas de “normalizar” tais atos (como os “gatos” de energia
e água), pela falência do Estado no atendimento do mais básico, enquanto poucos
se locupletam com a verba alheia.
No âmbito do Estado, bem disse Margaret Thatcher – ex-primeira
ministra do Reino Unido: “Não existe essa coisa de dinheiro público, existe o
dinheiro dos pagadores de impostos”. Portanto, quando esta verba é mal gerida,
mal versada ou desviada, é da sociedade que está sendo roubada.
Mas não há de se punir apenas os mandatários, ao proverem
suas “rachadinhas” (prática tão antiga quanto a prostituição), ou por comprarem
– com nosso dinheiro – refinarias sucateadas, há de se punir todo e qualquer ato
de quaisquer membros da sociedade, sejam políticos ou não. Sem tergiversações.
A ausência de punições é promotora dileta e direta de mais
corrupção.
Seu combate deve ser cotidiano, por todos, toda a sociedade,
sem “símbolos”, sem “mitos”, sem “caçadores de marajás”, sem falsas “vestais”.
Os discursos são lindos e maravilhosos, agradando aos
ouvidos, vendendo falsas ideias, distantes, porém da sua prática. Somente
atitudes, mais que palavras, são capazes de demonstrar, efetivamente, o
cumprimento de promessas.