O acirramento político tomou conta da sociedade, em todos os
níveis, de todas as formas e em todos os lugares. Provendo não apenas brigas familiares
ou entre amigos, mas, e principalmente, ocupando espaços nas redes sociais.
E a polarização também contaminou as redes de
relacionamento, onde já nas imagens de perfil, se observa imagens com os temas
de “#elenão” ou “soumito2022”. Nas descrições dos perfis, encontramos as
observações: “fora bolsominion” ou “se for PT vaza”.
Justamente nos sites onde, supostamente, as pessoas buscam o
“amor de suas vidas”, não há espaço para a diversidade, aceitação das
diferenças e respeito mútuo. Ou seja, cada um vive em suas respectivas bolhas e
não querem enxergar além delas.
Claro que as redes de relacionamento são apenas extensões
das redes sociais, óbvio que retratariam os embates vivenciados no mundo real.
O que chama a atenção é não haver espaços para conversa, dependendo da posição
política do “candidato a novo amor”.
Platão dizia que “a política é a arte de fazer amigos” e para
Aristóteles “o conceito e o sentido da amizade são determinados pela
perspectiva da polis. É a partir do ideal de uma vida comunal perfeita numa
polis autárquica que a amizade é concebida” e complementava: "a amizade,
além de ser uma virtude, é expressamente necessária à vida”.
Ora, o princípio de qualquer relação se baseia na amizade e
amizade pressupõe respeito as diferentes formas de pensar do outro. Nossa
evolução, como pessoas, está justamente na troca de saberes e conhecimentos e
discordar de um ponto de vista deveria ser um exercício de reflexão, de
ponderação, buscando avaliar melhor e ver por outros ângulos, nossos argumentos
e bases culturais.
Ter e manifestar uma opinião, necessariamente não implica em
domínio de conhecimentos a cerca do objeto ou fato. Tão somente nossa impressão
a cerca daquilo que a nós chegou, para qual elaboramos nossa reação opinativa.
Mudar nossa visão, alterar nossa opinião, através de mais e
melhores conteúdos, demonstra nossa capacidade de aprendizado, jamais vergonha.
É, antes de tudo, qualidade louvável e exemplar.
Será o ser humano avaliado apenas por sua posição política?
Que pode, via de regra, estar equivocada? E as demais qualidades do ser, como honestidade,
solidariedade, amorosidade, afetuosidade, empatia (palavrinha da moda, muito
usava e cada dia menos praticada)? Estarão homens e mulheres reduzidos as suas
preferências políticas?
Sim, Aristóteles também dizia que “o homem é um animal político”,
mas no sentido de que o "o homem é um ser que necessita de coisas e dos
outros, sendo, por isso, um ser carente e imperfeito, buscando a comunidade
para alcançar a completude".
Outro grande filósofo, Teilhard de Chardin, nos ensina: “nenhum
homem é uma ilha”.
Comungar de ideais, não significa comungar de ideias.
Parceria, companheirismo, cumplicidade, estão muito além da política partidária.
Esta é mutante e finita, com objetivos de curto prazo e, por ser “partidária”,
voltada para suas bolhas ideológicas.
Nossas relações tem muito mais riquezas a serem compartilhadas,
não apenas dogmas político partidários. Estes que hoje estão aí promovendo o dissenso,
os antagonismos, as polarizações com objetivos pessoais e mesquinhos, passarão.
As relações de amizade são perenes, quando verdadeiras, jamais sucumbindo as
ilusões temporárias.
Passado este período, tenho a certeza do surgimento de
muitos sentimentos de arrependimento, de pessoas que menosprezaram outras, reduzindo-as
a meros slogans ou memes, perdendo a maravilhosa oportunidade de conhecer mais
e melhor outro ser humano, com suas falhas e qualidades.