O termo “mendigo” havia caído em desuso em função do “politicamente correto”, sendo substituído por “pessoa em situação de rua” ou “pessoa em situação de vulnerabilidade”.
Mas os queridos colegas
esqueceram do termo e focaram no personagem que teve relações com uma mulher
casada.
Como se tal ocorrência fosse
uma grande novidade: relações fora do casamento; violência entre casais;
agressões à mulher.
O inusitado ficou por conta da
situação do “morador de rua”, exatamente por sua condição. E a partir daí, a
violência seguiu, com a exposição excessiva da vítima da agressão (o mendigo),
mas principalmente contra a mulher, sendo exposta indevidamente. E a vítima
passou a agressor também, ao relatar detalhes de sua relação com a esposa do “personal
treiner”.
Seria, via de regra, apenas um
caso de polícia – em função da agressão sofrida pelo “mendigo” – e um caso pessoal,
a ser resolvido pelo casal, em sua intimidade.
E a violência se seguiu, não
apenas pela mídia, na ânsia de ganhar manchetes, vendendo a desgraça alheia.
Isto é o pior do jornalismo, o mais abjeto. Porém, também as redes sociais
foram inundadas por memes de mau gosto, perpetuando a violência contra a mulher,
transformando tragédias pessoais em piadas.
Quando tantos falam tanto
sobre os crimes contra a mulher, quando tanto se fala sobre o crescimento do “feminicídio”
e de tantas outras formas de violência contra a mulher, ninguém parou para
pensar nisto?
E a questão da objetificação
feminina? E a apologia à traição? Não ocorreu “bullying”? Nada disto entrou na
conta ou em conta.
Fico enojado e em parte envergonhado
por ver “colegas” e “amigos” explorando de forma tão baixa e torpe tais fatos.
Agora, se não bastasse este
show de horrores, querem elevar o mendigo – que passou de vítima a agressor –
em celebridade, inclusive cogitando a hipótese de se candidatar a um cargo
eletivo.
De fato, nossa sociedade está
muito doente, quando explora uma tragédia pessoal de forma tão jocosa,
transformando a violência em piada nacional.
E não lí e não vi, quaisquer
manifestações dos movimentos feministas ou dos direitos humanos.
Todos os envolvidos são, de
fato, mendigos. Mendigos de alma.
"Para que o mal triunfe
basta que os bons fiquem de braços cruzados." (Edmund Burke)
MTb 0018790/RS