Em 10 de maio de 1933 Hitler deu início ao “Bücherverbrennung” – queima de livros – contrários ao novo regime alemão.
Mas este ato não é único na
história. Era a forma de “cancelar” aquilo que não agradava aos poderosos de
plantão.
Em 48 a.C. a biblioteca de
Alexandria foi incendiada, quando o imperador romano Júlio Cesar atacou a
cidade. Mais tarde, por volta de 331 a.C., é novamente destruída por novo
incêndio, incluindo aí o assassinato de Hipatia, a primeira mulher a estudar
matemática que se tem conhecimento (“cancelada” da história).
Arte e literatura são vítimas
frequentes da insanidade de uns.
Recentemente, certa corrente
ideológica, buscou “cancelar” Monteiro Lobato; outros desejavam “cancelar” Ernest
Hemingway; os clássicos de Wagner.
Mao Tse Tung também queimou
livros e obras de arte durante sua “Revolução Cultural” na China. Tal como
fizeram Lênin e Stalin, mando inclusive reescrever muitos livros.
Filmes, músicas, pinturas,
livros, são acervos inestimáveis da humanidade, por contarem nossa história,
além das estórias.
Agora vem um certo “YouTuber”
– nova classe de celebridade instantânea – pregando o “cancelamento” do
clássico “Moby Dick”, escrito pelo romancista americano Herman Meville em 1851.
Isto mesmo MIL NOVECENTOS E CINQUENTA E UM. Há mais de um século.
O dito livro narra a saga de
um capitão de navio na caça de uma baleia que atacara seu barco, arrancando sua
perna.
Nem entrarei nos escaninhos
psicológicos dos personagens, trabalho que demandaria escrever outro ou vários
livros. Na visão moderna, de nossos tempos, caçar baleias já é considerado um
ato abominável.
Mas, novamente, é preciso
entender o período histórico envolvido, o comportamento e pensamento social da
época. E com este olhar, aprender com os erros passados, ao invés de tentar
negá-los, escondê-los embaixo do tapete ou “cancelá-los”, como se nunca
tivessem existido.
A sociedade é mutante, por
sorte, aos trancos e solavancos, evoluí, aprende com seus erros (nem sempre) e
segue em frente. A cultura é dinâmica, “graças a deus”. Valores do passado, são
questionados e mudados no presente. E assim deve ser.
E é na educação, onde podemos
realizar a dialética fundamental, para entendermos como éramos, como somos e como
poderemos ser.
Já é bastante ruim que a
história não fale do protagonismo feminino, em todos os tempos, sempre relegado
ao segundo plano. Mas se não entendermos, se não conhecermos como pensavam os
“homens” do passado, jamais poderemos mudar o futuro.
Não, não se cancelam a
história, a arte, a literatura, a cultura. Hoje, aqueles que pedem seu
“cancelamento”, serão vistos daqui um século, como ridículos “mimizentos”, que
num determinado momento desejavam “cancelar” o passado, como fizeram Mao,
Hitler, Júlio Cesar, Lênin, Stalin, Fidel, entre outros.
Possuir uma visão crítica, nos
permite analisar e opinar. Mas é nossa visão de hoje. E para tal, é necessário compreender
e conhecer a visão da época analisada.
É interessante refletir: os
mesmo a pedirem o “cancelamento” da história, são os mesmos a bradarem, a
plenos pulmões “censura nunca mais”.
Eu grito sim “censura nunca
mais”, nem do hoje, nem do ontem, nem do amanhã.
Jornalista e sociólogo
MTb 0018790/RS